Belém, Norte/Pará, Brasil
Eidorfe Moreira nasceu a 30 de julho de 1912 na Paraíba. Com menos de dois anos veio para Belém, para onde sua família se transferiu. Como estudante, participou da vida cultural acadêmica e, das atividades políticas. Na revolta de apoio à Revolução Constitucionalista de São Paulo, foi ferido e perdeu um braço. Em 1935, começou a publicar na imprensa diária, artigos e ensaios. Formou-se em direito em 1938 e no ano seguinte iniciou sua carreira no magistério. Professor de Economia política, contribuiu na área de ciências e geografia. Ingressou no serviço público em 1945, onde permaneceu até se aposentar. Foi também professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará onde exerceu várias funções, afastando-se em 1982. Eidorfe Moreira é considerado um dos intelectuais mais importantes de sua geração e dos vultos mais notáveis que o Pará já produziu. Ele morreu em 02 de janeiro de 1989, aos 77 anos.
“A noção geográfica do espaço é estética e não física. O que interessa a Geografia na superfície do planeta é os seus valores de expressão, valores que se articulam em unidades morfológicas- as paisagens- para cujo estudo ela se vale do concurso de quase todas as ciências” (EIDORFE MOREIRA,1960,p.13)
Eidorfe Moreira : um intelectual multifacetado.
Fazer um breve passeio pela vida e obra de Eidorfe Moreira significa, a princípio, conhecer uma parte importante daquele que foi sem dúvida um dos maiores intelectuais do século XX. Apesar de sua formação em Direito, sua produção intelectual, em grande medida, esteve diretamente vinculada ao conhecimento geográfico.
Os trabalhos de Eidorfe foram um marco indelével para a produção de uma geografia regional, na medida em que o saber geográfico esteve por um longo período centralizado no eixo Rio/São Paulo, tornando invisível as pesquisas e os trabalhos oriundos de outras regiões, em especial, a Amazônia.
Embora a geografia tenha sido seu grande ponto de referência epistemológico, não podemos ocultar que se tratava de um homem das letras, que transitava nos mais variados campos do saber, dentro de uma perspectiva inter e multidisciplinar, conseguindo ultrapassar os limites do seu tempo e do conhecimento produzido à época. Em relação a essa assertiva é mister levar em consideração a seguinte afirmação: “Eidorfe foi um intelectual refinado. Representava, nesse sentido, o perfil letrado dos homens das letras, dotado de um saber construído em múltiplas frentes do conhecimento”(COELHO, 2012, p.7). Ainda a esse respeito o historiador Geraldo Mártires Coelho a fim de ratificar a ideia de um erudito multifacetado assevera que:
“A geografia de Eidorfe Moreira , para além do conceito estrito da problemática do espaço , sempre seria pensada em relação direta com os domínios contidos no campo significante de cultura. História, Filosofia, Antropologia, Sociologia e Literatura, por exemplo compõe o universo discursivo de Eidorfe Moreira (…)”(COELHO, 2012, p.7).
Considerado um ensaísta por aqueles que pesquisam sua obra, tem como cenário principal de seus trabalhos a região Amazônica, compreendendo-a como uma grande paisagem, na qual o geógrafo precisava estabelecer uma profunda relação com seus aspectos da natureza, daí porque defendia um conhecimento geográfico participante.
“O geógrafo não pode subtrair-se do seu “objeto’’ de estudo: a paisagem. Ele participa como qualquer ser vivente, da paisagem, e não poder anular sua pessoa , sua individualidade, sua subjetividade (…) O geógrafo não é mero analista de paisagem, mas deve possui visão e sensibilidade para compreendê-las como fato natural e senti-la nas suas manifestações humanas”(MOREIRA,1960,p.14)
Na construção da ideia de paisagem, um dos grandes objetivos de Eidorfe foi estabelecer um profícuo diálogo com a literatura, na medida em que a considerava um importante instrumento no entendimento da paisagem, questão abordada no seu ensaio de geografia cultural denominado “Presença do mar na literatura brasileira (1962). Dessa forma,“(…)vai trabalhar a literatura brasileira como também reflexiva da forte presença da paisagem na narrativa literária historicamente construída no Brasil(…)” (COELHO,2012, p.14)
O olhar de Eidorfe foi dirigido também à região insular. Segundo Guerra (2015), o pesquisador/geógrafo possuía um “olhar qualificado” diante das especificidades hídricas da capital paraense , afinal 2/3 de seu território é formado por ilhas. Em seu livro “Belém e sua expressão geográfica”(1966) ressaltou a importância das águas na formação da cidade de Belém, pois para o intelectual em tela, Belém: “ancourou-se” numa ilha(…).Belém não deve as águas apenas uma de sua beleza, mas sua própria modelação.Não só no plano geográfico, como no plano histórico, a água é o elemento dinamizador” (MOREIRA, 1989,p.63).
Ao ganhar notoriedade no cenário geográfico da cidade, graças as análises de Eidorfe, as ilhas começaram a sofrer intervenções e investimentos da gestão municipal. Uma das ações foi a criação do Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira no governo Hélio Gueiros, em 1996, batizando de forma justa àquele que se esmerou em trazer a público as peculiaridades de uma Belém insular, até então pouco estudada.
Um breve passeio sobre a vida e obra de Eidorfe Moreira.
O advogado, geógrafo, pesquisador, articulista e ensaísta Eidorfe Moreira, filho de um militar de nome Francisco Solerno Moreira e de Dona Petrolina Moreira, nasceu na Paraíba no dia 30 de julho de 1912.
Com menos de dois anos de idade migrou juntamente com sua família para Belém, local onde permaneceu por quase toda sua vida. Somente no período de 1921 a 1927 estabeleceu-se em Soure no Marajó, não teve a capital paraense como sua morada. Nos seis anos em que viveu no arquipélago marajoara, contribuiu para ter um olhar aguçado sobre a paisagem amazônida, situação comprovada na sua obra “Ideias para uma Concepção Geográfica da Vida” (1966)
No início da década de 30, na condição de estudante do Colégio Paes de Carvalho, participou ativamente do movimento estudantil e de debates intelectuais. Inclusive foi nesse período em que militou no movimento estudantil, participou de manifestação em apoio à Revolução Constitucionalista de 1932, onde foi alvejado por um tiro que resultou na amputação de um dos seus braços.
Em que pese o baleamento, Eidorfe adentrou no Curso de Direito, entretanto após o término do curso atuou como professor de Geografia em diversas escolas de Belém, como: Ginásio Progresso Paraense (1943), Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo (1944), Colégio Moderno (1945-1963), Ginásio Paes de Carvalho (1947) e Ginásio Souza Franco (1948). Ainda nesse período, atuou como funcionário na Delegacia Regional de Seguros.
Após a criação da SPVEA (SUPERINTENDÊNCIA DO PLANO DE VALORIZAÇÃO ECONÔMICA DA AMAZÔNIA), em 1954, o pesquisador amazonense Arthur Cezar Ferreira Reais convidara Eidorfe a compor o setor de divulgação da mesma, onde publicou importantes trabalhos sobre a Amazônia.
No ano de 1967 ingressou na Universidade de Federal do Pará na condição de diretor da Divisão de Intercâmbio e Expansão Cultural, instituição em que exerceu os mais variados cargos, em especial, como pesquisador, e onde permaneceu até 1982. Após longos anos de trabalho e produção intelectual, Eidorfe Moreira faleceu em dois de janeiro de 1989, vítima de um ataque cardíaco, aos 77 anos.
Principais Obras de Eidorfe Moreira
- Conceito de Amazônia(1958)
- Amazônia:O Conceito e a Paisagem(1960)
- Estado e Ideologia(1960)
- Ideias para uma Concepção Geográfica de Vida(1960)
- Belém e sua Expressão Georgráfica(1966)
- Presença do Mar na Literatura Brasileira(1962)
- Os Sermões que o Padre Vieira Pregou no Pará(1970)
- O Livro Didático Paraense(1979)
- Os Igapós e seu Aproveitamento(1976)
Referências Bibliográficas
COELH0,G.M. Eidorfe Moreira e o conhecimento transdisciplinar. Novos Cadernos NAEA v. 15, n. 2, p. 5-20, dez. 2012.
GUERRA, Gutemberg Armando Diniz. Eidorfe Moreira e o aspecto insular de Belém. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 10, n. 3, p. 583-589, set./dez. 2015.
MOREIRA, E. 1960. Amazônia: o conceito e a paisagem. Rio de Janeiro: Agência da SPVEA, In: OREIRA, E. 1989. Obras reunidas de Eidorfe Moreira. Belém: CEJUP, (vol. I).
MOREIRA, E. Ideias para uma concepção geográfica da vida. Organização de Maria Stella Faciola Pessôa Guimarães. Belém: Semec, 2012. 2. ed.
MOREIRA,E.. Presença do mar na literatura brasileira. Belém: H. Barra, 1962.
MOREIRA, Eidorfe. Belém e sua expressão geográfica. Belém: Imprensa Universitária, 1966.
MOREIRA, Eidorfe. Belém do Futuro e sua moldura insular. A Província do Pará. 10 de agosto de 1980.
NUNES, B. 1989. Nota crítica. In: MOREIRA, E. Obras reunidas de Eidorfe Moreira. Belém: CEJUP, pp. 25-28. (vol. I).
PEREIRA,E.A.D. Uma leitura da concepção geográfica de Eidorfe Moreira..GEOgraphia (UFF), v. 16, p. 24-50, 2014.