Em tempos de sedentarismo e dificuldades de relações interpessoais, são inegáveis as contribuições das experiências sensíveis capazes de promover, lúdica e espontaneamente, o encontro do ser humano consigo mesmo e com o outro. Nesta perspectiva, o resgate do mundo circense em toda sua magia e vivacidade emerge como oportuno, prazeroso e constitui-se num verdadeiro diferencial estratégico de natureza interdisciplinar.
Atentas às referidas potencialidades voltamos nossos olhares e intervenções no sentido de explorar os elementos lúdicos, expressivos e comunicativos do universo do circo, versão moderna de entretenimentos ancestrais vivenciados por diferentes povos em diversas culturas. Como espetáculo pago, é muito recente, sendo o entretenimento mais antigo do mundo cujas origens no Brasil, datam do século XIX. Esse projeto pretende, por meio de vivências significativas e personalizadas dentro das referidas modalidades, desenvolver e discutir inúmeros aspectos relacionados à cultura e ao lazer no contexto da qualidade de vida, a apreensão de valores culturais e a reflexão sobre o corpo criativo.
A cena, a magia e o imaginário do circo nos são importantes referentes para abordar relações entre forças, agenciamentos, jogos de verdades, objetivação e subjetivação, produções e estetizações de si mesmo e do outro, práticas de resistência e liberdade: enunciações.
O circo é pensado por nós como espetáculo cultural permanente. Na atualidade passa por uma revitalização não só de seus aspectos tradicionais, mas também, de adaptação a novos formatos, perspectivando aspectos físicos, psíquicos e socioculturais nas vivências do lazer, o que instiga o interesse em desvelar, no circo, sua arte e seus saberes, entre a magia, o malabarismo e o equilibrismo. Esse resgate, ainda pouco explorado nas situações didático-pedagógicas, ganha crescente adesão dos formadores reforçando a abrangência da abordagem interdisciplinar.
As ações deste projeto têm por objetivo oferecer oficinas semanais de perna de pau, a partir das quais outros circenses serão convidados a integrar suas linguagens ao que já esta sendo desenvolvido em termos técnicos e de expressão corporal, sejam elas acrobáticas, palhaças, cênicas, pirofágicas, etc, no intuito de criar um circo dos altos na CEPE com a comunidade escolar.
Segundo Lafourcade (1974), o processo de ensino constitui um conjunto de procedimentos estimulantes, orientadores e reguladores dos processos de aprendizagem de um sujeito, concluindo-se que qualquer processo de ensino aprendizagem ou mesmo de treinamento deve seguir uma sequência ascendente de progressão da dificuldade, seja ela referente ao esforço físico, psíquico, técnico ou estético, além de respeitar a capacidade lógico-racional dos alunos implicados. Em nosso caso, estabelecemos uma progressão lógica de dificuldades para o processo de aprendizagem da Perna de Pau, que chamamos de “Iniciação”, onde procuramos desenvolver um grupo de ações motrizes elementares que consideramos mais importantes, como levantar, abaixar, caminhar, etc.
As tarefas motoras que propomos também visam a desenvolver outros aspectos fundamentais da aprendizagem, como podem ser: a confiança, o respeito ao material e à situação de altura, a superação do medo de altura e do desconhecido, o desenvolvimento de algumas qualidades e condições físicas, as respostas efetivas sobre segurança e, a solução de problemas típicos (desequilíbrios, quedas etc.). Além disso, não podemos deixar de citar que se trata de um processo que busca problematizar e explicar de maneira contextualizada (significativa) seu conteúdo além de desenvolver especialmente a capacidade criativa dos alunos, característica fundamental das atividades lúdico-expressivas.